A história de um bebê: Benjamim (parte I)

14/01/2017

"Uma vez vi um filme, que não lembro o nome, onde a protagonista fazia uma afirmação: quando nasce um bebê, nasce também uma mãe. Achei a frase linda, mas hoje, discordo dela. Eu me descobri mãe, 12 meses antes do nascimento do meu filho."

 Era dia 27 de Dezembro e minha menstruação estava atrasada há alguns dias, o que não é nada habitual. Já tinha comprado um exame de gravidez e deixado na gaveta, concordamos em fazer quando não desse mais para aguentar a ansiedade. Acordei as 7h, com o coração acelerado como se tivesse tomado Red Bull a noite toda. Entendi que aquilo era a ansiedade no limite. Fiz o teste e, TCHARAM!, dois palitinhos rosa, deu positivo. Pulei na cama como as crianças fazem em filmes de Natal aericano, balançando aquele palitinho cheio de xixi na frente do meu marido, e ele sem entender nada. Falei "Amor, vamos ter um bebê!". Mal essa frase saiu da minha boca, eu já estava chorando. Vendo minhas lágrimas, o Ton entendeu o que estava acontecendo e começou a chorar também. Nos beijamos, nos abraçamos, oramos com as mãos na minha barriga, foi um momento lindo. Ali, me fiz mãe. Algo mudou aqui dentro, uma chave foi virada e não tinha mais volta.

Seguramos a notícia o quanto conseguimos (longas 24h) e logo contamos pra nossa família. Lembro que no dia seguinte à descoberta, encontramos com o Lenine (muso) caminhando na Urca, pensei "Jesus me ama", estava tudo indo muito bem.

Sempre quisemos ser pais, conversamos sobre isso no nosso primeiro encontro. Ter um filho pra gente, não era o caminhar natural da vida de um casal ou simplesmente uma tarefa pra dar check, era a realização de um sonho. Nosso primeiro e maior sonho a dois.

As coisas caminharam, o tempo foi passando, mais pessoas ficaram sabendo da novidade, nosso mundo estava feliz. Até que um dia, perto de completar o primeiro trimestre, tudo virou de cabeça pra baixo. Em uma sequência de sangramentos, idas pra emergência hospitalar e ultras invasivas, tudo se foi. Perdemos nosso sonho.

Nunca tinha sentido uma dor tão profunda quanto aquela, nem chorado lágrimas tão pesadas. A volta do hospital levou uma eternidade. Eu olhava pras pessoas na rua e não ouvia nada, tinha um grande vazio na minha mente.

Nos permitimos sofrer por alguns dias. Sem demagogia, sem síndrome de super herói, abraçamos nossa dor, ela nos abraçou de volta e aquilo foi essencial pra nossa cura.

Ainda em meio ao luto, Jesus sorriu pra mim. O choro foi embora, a esperança tomou seu lugar. Eu não carregava mais nada no meu ventre, mas a chave tinha sido virada. Aqui dentro, eu já era mãe.

Quase quatro meses depois, tivemos um novo atraso. Dessa vez não era ansiedade que estávamos acumulando pra fazer o teste, era coragem. Um dia acordei decidida e abri a gaveta, encarei o teste por alguns segundos, guardei o medo em uma caixinha e segui em frente. Meu coração parou quando vi o "Grávida - 3 semanas" no visor, tinha comprado um teste mais moderno, sem palitinhos rosa.


Dessa vez não houve pulo na cama, nem euforia de natal. Com mais serenidade, mas não menos alegria, deitei no peito do Ton. Disse "deu positivo", ele beijou minha testa, me abraçou apertado e disse "Jesus é bom". Voltamos a dormir.

Dessa vez, guardamos a notícia como um segredo precioso. Nossa família levou quase um mês pra saber, nossos amigos só souberam quando chegamos no segundo trimestre. A ultrasonografia veio pra confirmar o que eu já sabia há muito tempo: era um menino.

Sempre soube que nosso primeiro filho seria menino, já tinha sonhado com ele. Vi os olhinhos, as mãozinhas, ele até dançou pra mim. Já sabiamos que ele seria Ben, só não tínhamos decidido se Ben de Benicio ou Ben de Benjamim. No fim, Benjamim venceu.

Tivemos uma gravidez super tranquila. Desacelerei ao máximo todas as minhas atividades, foquei todas as energias na gestação. Todos os dias, estudava, desde psicologia moderna para crianças ao poder nutritivo da jaca, buscando maneiras de dar o melhor pro Ben. Quando pequena, achava incrível como minha mãe tinha resposta pra tudo. Achava aquilo um máximo, queria ser uma mãe assim. Quando cresci, descobri que ela inventava respostas engraçadas pra tudo que não sabia. Mas tudo bem, se minha mãe não era o Google, ela sabia (e ainda sabe) me fazer rir como ninguém.

Reformamos a casa, planejamos um quarto lindo, programamos nossas agendas. Entre 10 e 15 de Fevereiro, nossa vida mudaria. Ou pelo menos, era o que pensávamos.

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